Se o ego é ordenado, a alma é confusão. As várias vozes da alma mostram-na desconexa, não sistemática, indireta, repetitiva. Mas é na verdade o ego que está confuso quando se aproxima da alma. A experiência de confusão vem do ego, que precisa vivenciá-la ao se aproximar, ou para se aproximar, da alma. Ordem e argumentos lógicos, ordem e progresso, não convencem (nem traduzem) a alma, não modificam a alma. O tumulto de nossas fantasias, a desordem dos afetos e as psicopatologias teimosas e intratáveis de que somos feitos, naturalmente testemunham isto. A realidade da alma inscreve-se dessa forma naquilo que Michel Maffesoli já chamou de uma “ordem confusional”.
em Vôos & Raízes, 2006