“As mãos governam o trabalho,” disse James Hillman, o que quer dizer que as mãos carregam a imagem arquetípica do trabalho. A mão faz, realiza, forja, modifica. Ela institui o homo faber. Ela é mística: ora. Ela é fazedora: labora. Trabalho do espírito e trabalho da carne. Prece e coisa, espírito e matéria, tudo a mão faz. E tudo o que é feito à mão revela mais profundamente a alma do trabalho, revela o dom.

Devemos entender seu logos. Para a lógica das mãos, importante é aquilo que pode ser tocado. Ela ensina e nos inicia na dimensão da palpabilidade. A mão indica o que é palpável. Para a mão, é realidade o que for palpável. Sua é uma alma tátil, alma que ama o sólido, ama a matéria.
Como um prolongamento do cérebro, ela entende a matéria como ofício. Como um prolongamento do coração, ela entende a matéria como arte. Artes e ofícios. Dois lados, dois hemisférios: duas são as mãos. Razão e emoção, função e canção.

Os dedos fazem a mão trabalhadora, e lembram que a mão é politeísta: em cada dedo um planeta, uma energia, um mistério e uma força. O polegar é de Vênus, o indicador é de Júpiter, o médio é do Sol e o mindinho é o dedo de Mercúrio, esse Hermes-criança que temos na ponta da mão, quase esquecido. Em cada dedo um órgão do corpo: cabeça, vesícula, baço, fígado, coração. Em cada dedo um Deus, dedos e deuses fazendo trabalho, trabalho dos dedos fazendo a mão falar, ouvir, ver.

 

em Psique e Imagem, 2012