Da fratria à philia, desenha-se na alma um percurso que, ao mesmo tempo em que amplia seu horizonte afetivo, também traz para perto, para dentro, aproxima e ensina as lições da intimidade. Esse percurso se chama amizade. Muitas são suas metáforas, seus símbolos, suas imagens, que apresentam aquele que já foi entendido, num plano individual, como o mais elevado eros de que a experiência humana é capaz. Fidelidade, lealdade, altruísmo, confiança, confidência, franqueza, afeição profunda, cumplicidade, companheirismo são alguns de seus sentimentos mais nobres e bem difíceis. Também difíceis e trabalhosas são as torturas de seus afetos mais sombrios: traição, rivalidade, inveja, ciúme, inimizade, ódio, disputa, agressão, rupturas.
Numa ensolarada tarde de Abril, com sua luz suave de outono banhando pacificamente o mobiliário, sentado na biblioteca do Sítio Pedra Grande, deixando-me impregnar pelo silêncio profundo e perfumado que vem das montanhas da Mantiqueira ao redor, encontrei-me com este finalzinho de parágrafo de Michel de Montaigne, trecho de seus volumosos Ensaios.
Erros, fracassos, falhas, deslizes, perdas, disfunções, malogros, descaminhos, desilusões, derrotas, bancarrotas, falências, quedas, colapsos, traições, descalabros, desajustes, faltas, naufrágios, decepções, e a lista vai longe. Há toda uma linguagem para chamar e imaginar o que não funciona. Deparamo-nos constantemente com ela. Pois não é esta a composição básica do dia-a-dia de nossos consultórios?
Mini ensaio: tenho gostado de escrever os mini ensaios, são muito atraentes. Escrevê-los novos ou retirá-los do que já escrevi, como fragmentos, às vezes modificando algo. Concisos e poderosos a seu modo, neles pode haver muita sugestão de sentidos em pouco tempo/espaço. O mini ensaio está para o ensaio assim como o hai-kai está para o poema longo. O mini ensaio é o hai-kai da prosa.
O que alimenta a alma? Este livro é para aqueles que querem refletir sobre o ato cultural de alimentar-se em seu significado psicológico mais profundo, explorando as metáforas que esse gesto diário e seus processos originam para nos ajudar a entender melhor a centralidade da comida e da fome na vida de todos nós. Sonhos doces, verdades amargas, realidades salgadas, relações apimentadas, situações picantes compõem a psicologia da alimentação muito antes que se instalem os transtornos alimentares propriamente ditos.
O conceito de imaginatio é talvez a chave mais importante para a compreensão da opus.
— C. G. Jung, Psicologia e alquimia, 1944
Este livro apresenta reflexões em torno das relações entre psicologia junguiana, trabalho analítico e questões culturais relevantes da contemporaneidade.
O papel fundamental do arquétipo fraterno na estruturação e no estabelecimento da vida adulta individual é inegável, ainda que desprezado. Irmão e irmã são figuras poderosas em nossas vidas na constituição de nossos padrões de relacionamento maduro.