Texto completo de “A Imaginação das Fronteiras”, conferência realizada em 25 de Agosto de 2017 no XXIV Congresso da Associação Junguiana do Brasil, em Foz do Iguaçu.
Numa ensolarada tarde de Abril, com sua luz suave de outono banhando pacificamente o mobiliário, sentado na biblioteca do Sítio Pedra Grande, deixando-me impregnar pelo silêncio profundo e perfumado que vem das montanhas da Mantiqueira ao redor, encontrei-me com este finalzinho de parágrafo de Michel de Montaigne, trecho de seus volumosos Ensaios.
Erros, fracassos, falhas, deslizes, perdas, disfunções, malogros, descaminhos, desilusões, derrotas, bancarrotas, falências, quedas, colapsos, traições, descalabros, desajustes, faltas, naufrágios, decepções, e a lista vai longe. Há toda uma linguagem para chamar e imaginar o que não funciona. Deparamo-nos constantemente com ela. Pois não é esta a composição básica do dia-a-dia de nossos consultórios?
Mini ensaio: tenho gostado de escrever os mini ensaios, são muito atraentes. Escrevê-los novos ou retirá-los do que já escrevi, como fragmentos, às vezes modificando algo. Concisos e poderosos a seu modo, neles pode haver muita sugestão de sentidos em pouco tempo/espaço. O mini ensaio está para o ensaio assim como o hai-kai está para o poema longo. O mini ensaio é o hai-kai da prosa.
O conceito de imaginatio é talvez a chave mais importante para a compreensão da opus.
— C. G. Jung, Psicologia e alquimia, 1944
Em 1987, ano em que se comemorava o 25.° aniversário da morte de C. G. Jung, na Conferência “Presente e Herança Cultural” em Milão, no Centro Italiano di Psicologia Analitica…
Todos temos nossas gavetas. Não há uma vida sem gavetas, e elas estão por toda a parte. Temos gavetas arrumadas (inclusive alfabeticamente), onde mora nossa solidão, e gavetas desarrumadas (inclusive pelos outros), onde mora nossa confusão. Cada uma tem sua função simbólica. O que está guardado nelas?